sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Rascunho?!

O lençol fino sob a grama e abaixo de nós não fez desaparecer a magia da vegetação insistindo em pinicar. Seu jeito de sentar com uma perna esticada e a outra dobrada pra poder apoiar o braço da pulseira te deixava lindo, mas não como sempre, de maneira diferente. A maneira descompassada com que a fumaça saia de seus lábios me deixava intrigada. Ou estava demasiadamente ansioso, ou nervoso como havia me dito... Me calei, como quase sempre, observando com distância segura. Já era hora de o sol partir, mas ele insistia em ficar. Parecia querer saber também o motivo do seu silêncio e da falta de sintonia entre as notas da música e sua fumaça. 
Decidi encará-lo. Será que ninguém ensinou que era feio ficar espiando os outros? Ele se intimidou, creio eu, pois aos poucos foi abaixando a crista... Ficando cada vez mais frio... A Lua chegou. Foquei meu olhar em você. Eu queria te dizer algumas coisas, mas não sabia mais qual era a intenção naquilo tudo. Queria era sentar no seu colo e devorar todas as groselhas e castanhas ditas até o momento. Mas a hora do pique nic parecia ter passado. Ou não?
Você notou meu olhar, apagou o cigarro. Eu dei um gole longo na garrafa de conhaque. Te ofereci a garrafa. Você pegou. Bebeu. 
Me deitei com as pernas dobradas. Pensei em como eu era otária por ter passado a tarde toda com você e não ter dito quase nada. Fiquei contando os segundos imaginando você dizendo que precisava ir embora. Olhei pra Lua e ela se escondeu atrás da primeira nuvem que encontrou. Não queria falar comigo também. Senti sua mão em meu joelho e puxei a perna por reflexo. Você se afastou olhando pra baixo e abraçando os joelhos. Hei? Disse tocando seu ombro. Foi só um reflexo. Peguei a garrafa de sua mão. Dei outro gole e a coloquei do outro lado, perto dos capacetes. Me deitei mais perto. Deita aqui comigo? Você se deitou de lado. Eu virei o rosto pra observar o seu. Você não buscou meu rosto. 

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Eu choro

Eu choro muito. Eu acho que meus dutos lacrimais não tem espaço pra reserva, então eu choro. Eu choro quando bato o dedo na quina do móvel. Eu choro quando leio um trecho triste. Eu choro quando sinto raiva. Eu choro quando saio na claridade sem proteção. Eu choro porque meu personagem  preferido é um babaca. Eu choro quando algum personagem se parece muito comigo ou com alguém que conheço. Eu choro quando vejo os olhos puros de alguém  (essa sensação é incrivelmente sinistra). Eu choro a separação dos meus pais. Eu choro de saudade. Eu choro meu passado. Eu já chorei de vontade. Eu choro de ciúme. Eu choro de medo. Eu choro de raiva. Eu choro cortando cebola. E hoje eu chorei. Mas não foi só porque eu senti dor. Hoje eu chorei porque eu senti um medo enorme de nunca ser mãe.
Nunca tive sonhos, eu que sempre me achei o meio maluca tenho notado que meus pés são raízes no chão.
Eu nunca consegui me imaginar daqui a 20 anos. Mas eu sempre me imaginei até os 20 e poucos. E eu te imaginei no meu colo muitas vezes. Nunca admiti nem pra mim mesma, mas hoje eu me permiti.
Eu já quis muitas coisas que nunca vou ter, e hoje, tenho maturidade pra aceitar e seguir. Eu também chorei por isso. Logo em seguida sequei as lágrimas e retoquei o batom.
Mas hoje eu não pude. Não pude porque eu não queria que as lágrimas saíssem, eu não queria sangrar. Eu pensei, você nem tá aqui comigo, seja Otelo, Mathias ou Victor. Mas se a sua casinha não existir, eu já sei como vou me sentir.
Eu acho a maternidade uma coisa muito bonita, e como todas as coisas que admiro, ela sempre me assustou.
Mas hoje eu sei que eu não to pronta pra abrir mão de no futuro te conhecer. Eu sei que o que eu mais quero na vida é ver sua sobrancelhinha levantando numa expressão sorridente, mesmo que ainda sem dente. Sentir seu cheiro natural e dormir segurando sua mão pra você saber que eu nunca, nunca mesmo vou deixar de estar enquanto puder estar. Eu me assustei com medo de perder uma parte de mim que me fere, mas que eu resistiria pra te ver chegar.
É um alívio o diagnóstico de que "as coisas vão ficar bem". Mas eu não sei o quanto acreditar nisso.
De qualquer forma, eu acho que minha maturidade chegou antes, e agora eu estou apta a ser a melhor mãe do mundo. Eu não acredito em amor obrigatório ou incondicional. Mas eu juro, que quando você vier, eu vou criar laços incríveis entre nós, e que você vai ser a coisinha mais amada desse mundo. Mesmo quando chorar e atrapalhar meu sono. Mesmo quando me privar de coisas que eu tanto gosto, porque precisa de uma mãe responsável. Mesmo quando me fizer chorar de insegurança das coisas que vamos aprender juntos. Eu me cobro muito. Eu juro te ensinar valores únicos, e te explicar que dói viver nesse mundo péssimo, mas que meu colo vai sempre te sustentar, meus ouvidos vão te escutar, minhas mãos vão te segurar e que minhas palavras possam te orientar.
Eu sei que vou encher a memória do meu celular com seus vídeos, e por Deus, eu vou encher Hds externos com lembranças das suas primeiras graças, primeiras frutas, primeiros passos na areia. Mais tarde, primeiro furo na orelha, primeira tatuagem. Vou lotar o feed com teus olhinhos bonitos, e perder muitos seguidores, eu já deixei de seguir mãe babona (admito). Vou chorar de raiva da sua primeira rebeldia (em segredo) e depois notar que faz parte do seu gênio, mesmo assim te negar aquele brinquedo. Vou chorar com você sua primeira nota ruim, depois rir e dizer que a vida é assim. Sentar e te explicar com paciência, e ainda que eu a perca, vamos subir sua média em ciências. Vou te ensinar a ser forte, mesmo não sabendo ainda qual será seu porte. E mesmo que eu parta cedo, não vou mais ter medo, porque você vai fortalecer essa parte de mim que sempre existiu, e até hoje era um segredo.
- Sua mãe, no futuro.
(13/01/2018)

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Quebrada

Novamente a minha porta, insônia. Ela, tão próxima de tantos amigos, resolveu forçar intimidade comigo. Talvez ela tenha vindo porque escutou meu peito gritando que não queria dormir sozinho. Agora ela senta na ponta da cama e me encara com seus olhos fundos, questionadora. Eu sei que ela tem fome de dúvida e que uma boa anfitriã ofereceria algo pra beber, mas não quero ser educada com alguém que não convidei. Me viro pro canto, e sinto ela se aproximar, acariciar meus cabelos e sussurrar que não vai me deixar. Finjo que não escutei. Finjo que ela não está aqui. Finjo mal, porque sei que ela sente meus olhos abertos, pregados no escuro. Ela sente minha respiração ofegante, a mandíbula travada e o medo das respostas que ela quer de mim. E então ela me abraça, sinto seu hálito na nuca e por um pequeno momento eu acredito que é pra sempre... mas eu sei, que quando o sono entrar pela porta, ela há de esgueirar se pela janela e quebrar sua vil promessa. -Lara Kustrowa 06/12/16

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Reflexões de um feriado frustrado

Quando fico indecisa sobre escrever ou ver um filme/série/ler algum livro a primeira opção só ganha quando eu tenho pensamentos do tipo "você está deixando alguém mais rico e perdendo tempo de criação" aí, paro e escrevo como se não houvesse câimbras. Depois analiso que esse pensamento me é recorrente, e que eu sou covarde ou preguiçosa (use o termo que preferir) pra seguir tudo que eu penso e construir meu próprio Império.

 No fim das contas isso me leva a outras questões... a tendência de obedecer quem tem mais, seja idade, grana, seguidores ou fama  está impregnada em muitas mentes. É confortável seguir o que já está pronto. Quando você diz/pensa que pode fazer melhor soa ofensivo, imoral. Como diz um amigo (inteligente e jovem- pasmem), é tudo  tão ridículo, parecem cegos, seguindo massas muitas vezes sem saber o porquê ou com justificativas que sequer entendem.
É difícil, mas separe as coisas. Questione-se.
Depois disso, quem você é sem os fios  que te guiam?

sábado, 21 de outubro de 2017

Tem visita na casa #1


Há beleza na certeza ou na total dúvida das coisas?
Cada um escreve o que sente,
que vem na goela,
que bate nos dentes,
que trava a mandíbula,
que sai da mente,
que vem do outro,
que vem da gente,
pra um é frio,
pro outro é quente,
que é verdade,
as vezes mente,
que vem do passado,
que é presente,
ou do futuro que é iminente.
Que seja, abre-se o peito,
a sua fortaleza,
pra alguns a inspiração vem da beleza,
alegria ou tristeza,
e pra mim,
como um eterno ritual,
e exercício,
quase que um vício,
da mais cruel e aconchegante frieza.
-Axel

quinta-feira, 8 de junho de 2017

Come as you are


Eu odeio isso. Eu odeio esse assalto ridículo de tudo que eu penso.
Eu detesto querer algo que todo mundo quer. Eu odeio o mainstream. Você é tão mainstream sem querer. Eu odeio como você é indiferente a tudo, e tão bonito.
E odeio pensar em tudo que odeio em você, e ainda assim saber que te amar te odiando tanto significa que eu to completamente perdida. Perdida. Eu nunca liguei pra estar perdida. Você sabe tanto onde está, e eu que nunca sei aonde eu to nem pra onde vou, de vez em quando penso que to na tua. Só penso. Você some. Onde  você tá?
Agora, onde você tá? Eu sempre quero saber. Te quero por perto, porque assim me sinto segura. E eu sei que não devia... qual laço liga a gente? Qualquer que seja, ele pode desatar... se desgastar... ser cortado. Sei disso porque é o que sempre acontece. Mas você faz o meu sempre se embaralhar, porque quando é você, sempre é uma surpresa.
Confortável é como me sinto em relação a confiar em você e, ao mesmo tempo que isso me faz ter um porto seguro, é também minha maior fraqueza, já que eu sou completamente vulnerável a suas ações. Mas não quero pensar nisso. E eu deveria...
Eu não quero pensar em você assim. Eu sou adulta agora. Você é adulto agora. Eu não sou o que você quer, e eu quero que você tenha o que deseja. Acho que cê fica com um brilho estranho, que eu não sei descrever quando tem algo que  quer. Eu gosto disso em você. Dos seus momentos que destoam do seu descaso habitual. Eu não quero e nem posso te causar satisfação, eu gosto de provocar seu outro lado, aquele indignado de como eu posso ser terrivelmente teimosa e insistente, as vezes estúpida. Esse também destoa da sua linha não tênue. É isso que é interessante. Sua linha não é tênue, não é pra ser digerida. Precisa-se de muito pra te fazer vibrar pouco. É sempre um puta desafio. É como um jogo daqueles que é mais seguro observar, que jogar. Vou dizer que to embaralhando tudo, mas você sabe que eu sempre faço e falo isso...
Eu tenho asco de silêncios, mas de vez em quando eu consigo gostar. De vez em quando, acontece enquanto você dirige. São sempre poucos segundos, porque eu não gosto de pra onde meus pensamentos me levam. Ou gosto, mas não quero estar lá. Não sozinha. Não sei se já te contaram, mas é como circular o abstrato. A concentração física. Acho legal. Também gosto do brilho dos anéis e do contraste da pele branca com a direção. E do seu rosto de perfil. E é por isso que odeio quando você vem com onomatopeias, porque não é sobre esses silêncios bonitos... e sim daquele tipo horrível que planta setenta e três coisas ruins na minha mente.
E refletindo sobre o que disse... sobre ninguém ficar muito tempo na sua vida, eu já te disse que as pessoas são culpadas e fracas, mas você é um puta sádico do caralho. Eu me identifico um pouco com isso de afastar as pessoas mas, de maneira diferente.
Estar perto de você é sempre testar limites... do que se pode aguentar, sentir e suportar. Também de quanto você pode gostar de alguém. Como te acho absurdamente indiferente, provável que seja natural esse seu jeito de selecionar quem segue do teu lado. Poucos ficam. Muitos se desintegram.
No meu caso, eu não confio em ninguém pra ficar. Nem que alguém vá ficar. Nem que queira ficar... eu fico agindo de maneiras ilimitadas pra ver o quanto aguentam antes de desistir. No fundo, talvez eu queira que todos desistam só pra provar que eu to certa.
É ridículo admitir isso.
A analogia é que você é um buraco negro, e eu um furacão.
Você engole o que destrói e transforma em nada. Eu deixo a bagunça visível, é possível reconstruir...
Eu to escrevendo, porque não quero falar disso com você, olha que irônico...
Eu me senti culpada por alguém que não é tão ligado a você se sentir preocupado com o que escreve, e eu enxergar de uma forma triste, mas linda. Sinceramente eu não me preocupei com aqueles textos no sentido da palavra preocupação mesmo. Eu acho que muito do que escreve é um pouquinho do seu néctar. Nem todo mundo precisa ter gosto doce... nem todo mundo tem que espalhar glitter e colocar flores em canos de armas pra ficar bem na foto.
Talvez eu seja tão egoísta que tenho um ideal incrível sobre você, e me preocupar com sua escrita te consumindo esteja longe do meu olhar... mas sinceramente, eu não consigo assimilar essa ideia com o fato de quanto eu me importo com você.
Mas quando você diz hms ou não quer me dizer o porque você mesmo se sente preocupado (eu até sou meio inteligente, mas você é um enigma de solução não publicada) eu fico perdida. Eu tenho medo de por isso te afastar. De te perder (?)
E pra me confortar, eu penso, ele só pode tá brincando de me torturar... mas aí eu conflito com a ideia de que sou tão imbecil que quero fugir da realidade só pra me convencer que ta tudo bem. Só porque não sou tão forte quanto você.
Eu não sou muito boa nessa coisa de ser amiga. Eu sei que sou boa com confiança. Mas tem outros detalhes, né?
Não sou muito boa em não misturar as coisas também.
E sou bem ruim em como quero proteger quem eu gosto do que talvez não queiram ou não precisem de proteção. Enfim...
To aqui "falando" sozinha. Brigando sozzinha. É hora de consertar o que eu deixei ficar errado. Escrever faz tudo parecer mais real, não posso segurar as lágrimas enquanto escrevo. Mas é isso... no fim das contas eu preciso esvaziar pra me re organizar. Eu também espero que fique.  07/06/17

Vai e vem...

Em um momento tudo está contido, não sou solúvel apesar de frágil.
No próximo, a pressão aumenta e mesmo que minha parede seja espessa, ela trinca deixando minha fragilidade exposta. É tudo muito rápido, eu não posso conter. Meu conteúdo empurra uma parte de mim pra cada lado, e agora, quebrada eu não resisto. Me parto primeiro em dois, mas quando colido com o chão sou partes minúsculas espalhadas entre o ácido derramado.
Ninguém vai recolher.
A área é interditada. Cada pequena parte reflete a outra, e nesse momento eu não sou mais nada. Tudo se corrói, exceto meus fragmentos; Eu volto a ter significado quando você passa por mim, tão tranquilo que esquece seus pés descalços.
24-05-17