terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Eu choro

Eu choro muito. Eu acho que meus dutos lacrimais não tem espaço pra reserva, então eu choro. Eu choro quando bato o dedo na quina do móvel. Eu choro quando leio um trecho triste. Eu choro quando sinto raiva. Eu choro quando saio na claridade sem proteção. Eu choro porque meu personagem  preferido é um babaca. Eu choro quando algum personagem se parece muito comigo ou com alguém que conheço. Eu choro quando vejo os olhos puros de alguém  (essa sensação é incrivelmente sinistra). Eu choro a separação dos meus pais. Eu choro de saudade. Eu choro meu passado. Eu já chorei de vontade. Eu choro de ciúme. Eu choro de medo. Eu choro de raiva. Eu choro cortando cebola. E hoje eu chorei. Mas não foi só porque eu senti dor. Hoje eu chorei porque eu senti um medo enorme de nunca ser mãe.
Nunca tive sonhos, eu que sempre me achei o meio maluca tenho notado que meus pés são raízes no chão.
Eu nunca consegui me imaginar daqui a 20 anos. Mas eu sempre me imaginei até os 20 e poucos. E eu te imaginei no meu colo muitas vezes. Nunca admiti nem pra mim mesma, mas hoje eu me permiti.
Eu já quis muitas coisas que nunca vou ter, e hoje, tenho maturidade pra aceitar e seguir. Eu também chorei por isso. Logo em seguida sequei as lágrimas e retoquei o batom.
Mas hoje eu não pude. Não pude porque eu não queria que as lágrimas saíssem, eu não queria sangrar. Eu pensei, você nem tá aqui comigo, seja Otelo, Mathias ou Victor. Mas se a sua casinha não existir, eu já sei como vou me sentir.
Eu acho a maternidade uma coisa muito bonita, e como todas as coisas que admiro, ela sempre me assustou.
Mas hoje eu sei que eu não to pronta pra abrir mão de no futuro te conhecer. Eu sei que o que eu mais quero na vida é ver sua sobrancelhinha levantando numa expressão sorridente, mesmo que ainda sem dente. Sentir seu cheiro natural e dormir segurando sua mão pra você saber que eu nunca, nunca mesmo vou deixar de estar enquanto puder estar. Eu me assustei com medo de perder uma parte de mim que me fere, mas que eu resistiria pra te ver chegar.
É um alívio o diagnóstico de que "as coisas vão ficar bem". Mas eu não sei o quanto acreditar nisso.
De qualquer forma, eu acho que minha maturidade chegou antes, e agora eu estou apta a ser a melhor mãe do mundo. Eu não acredito em amor obrigatório ou incondicional. Mas eu juro, que quando você vier, eu vou criar laços incríveis entre nós, e que você vai ser a coisinha mais amada desse mundo. Mesmo quando chorar e atrapalhar meu sono. Mesmo quando me privar de coisas que eu tanto gosto, porque precisa de uma mãe responsável. Mesmo quando me fizer chorar de insegurança das coisas que vamos aprender juntos. Eu me cobro muito. Eu juro te ensinar valores únicos, e te explicar que dói viver nesse mundo péssimo, mas que meu colo vai sempre te sustentar, meus ouvidos vão te escutar, minhas mãos vão te segurar e que minhas palavras possam te orientar.
Eu sei que vou encher a memória do meu celular com seus vídeos, e por Deus, eu vou encher Hds externos com lembranças das suas primeiras graças, primeiras frutas, primeiros passos na areia. Mais tarde, primeiro furo na orelha, primeira tatuagem. Vou lotar o feed com teus olhinhos bonitos, e perder muitos seguidores, eu já deixei de seguir mãe babona (admito). Vou chorar de raiva da sua primeira rebeldia (em segredo) e depois notar que faz parte do seu gênio, mesmo assim te negar aquele brinquedo. Vou chorar com você sua primeira nota ruim, depois rir e dizer que a vida é assim. Sentar e te explicar com paciência, e ainda que eu a perca, vamos subir sua média em ciências. Vou te ensinar a ser forte, mesmo não sabendo ainda qual será seu porte. E mesmo que eu parta cedo, não vou mais ter medo, porque você vai fortalecer essa parte de mim que sempre existiu, e até hoje era um segredo.
- Sua mãe, no futuro.
(13/01/2018)

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