quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Pra você, ogrodoce.

Oi OgroDoce. Como está você? Espero que esteja feliz.

"Tem dias que você simplesmente sai de casa sem rumo, e sem companhia também. Ficam conhecidas como as piores ou melhores noites da vida. Quase sempre a gente espera as enquadrar na categoria de “melhores”. Eu não esperava enquadrar minha noite em nenhuma delas. Só queria observar as pessoas. Andava sentindo falta de um contato com o mundo externo, e de alguém servir meu copo.
Pra fugir totalmente dos costumes fui a um bar em outra cidade, aonde meu rosto era menos conhecido. Precisava evitar comprimentos desnecessários. Precisava passar a noite invísivel. Não fazia ideia de como chegar a qualquer lugar, mas graças a tecnologia atual o celular te leva pra qualquer lugar, ou quase.
Cheguei ao meu destino por volta das 22:00. Coloquei os óculos antes de adentrar o recinto. Entrei sem olhar muito os rostos que por mim passavam, precisava imaginar histórias pra todos eles, mas não queria ver ninguém antes de beber algo.
Sentei no canto do balcão, do lado mais escuro propositalmente. Pedi uma cerveja. O cara do bar parecia legal. Sorriu, sem mostrar os dentes ao marcar a cerveja na comanda. Pensei que talvez não tivesse dentes bonitos. Dei um gole longo  na garrafa pra ver se espantava meus pensamentos tolos. Vi uma garota linda. Quis pensar em uma história pra ela. Não encontrei nenhuma. Aconteceu a mesma coisa com algumas outras pessoas que olhei. Me senti impotente. Eu já tinha me acostumado a não saber viver histórias, mas, descobri que não conseguia mais inventar histórias pros outros. Já tinha bebido 7 long necks, o efeito começara a dar sinal. Preferi ler o rótulo da cerveja do que pensar em como as coisas podiam ser ruins quando você pensa que não pode piorar. Inclinei o casco apoiado no balcão e forcei as vistas. Não consegui ler muito bem, o ambiente escuro me atrapalhava, ainda que de óculos. Tive vontade de sair dali, de ir pra algum lugar sem ninguém e gritar até perder a vox. Precisava de algum sentido pra vida. De fazer a vida de alguém ganhar sentido. Pedi a conta. Apoiei os cotovelos no balcão, tirei os óculos, passei a mão pelo rosto como se fosse limpar com ela aqueles pensamentos. Não resolveu. Paguei a conta e não quis o troco. O banco era um tanto alto. Desci um pouco desajeitada. Peguei a mochila e me virei, sem delicadeza. O resultado foi um esbarrão que me rendeu, além da vergonha, com certeza um hematoma pra amanhã. Olhei pra cima, pro seu rosto, pra me desculpar. Abri a boca por alguns segundos seguidos e não conseguia me lembrar o que ia dizer. Você sorriu. Eu disse oi. Você disse oi. Eu não perguntei se estava tudo bem. Me virei pra sair depressa dali. Você tocou meu braço. Me virei e tropecei no seu pé. Minha vida definitivamente devia ser um seriado onde todos esperavam minhas atitudes embaraçosas pra rir. Pensando assim pelo menos minha vida tinha algum sentido.
-Já vai? - você disse me olhando como quem não entende nada.
-Já vou! - consegui organizar as palavras com uma velocidade aceitável.
-Fica mais um pouco, tanto tempo que não te vejo, como vai? -falou e deu um gole em seu copo de cerveja.
-Vou bem, e você? - disse com o sorriso mais sem graça do mundo.
Como é que eu podia estar bem? Você embaralhou meus pensamentos desde a nossa primeira conversa. Assaltou me os textos durante tempos e, quando decidi que não podia mais te escrever, criar histórias pra nós dois, eu não sabia mais como voltar atrás.
-Eu to bem, você tem certeza que está tudo bem? - você pareceu preocupado, suas sobrancelhas se curvaram. Seu rosto continuava tão lindo quanto antes, mas a barba havia crescido.
-Não muito, mas passa! - olhei pro chão, pensei em porque ainda estar ali... não fazia sentido. Eu devia ir embora pra sempre.
-Tudo passa, não é? - pediu mais uma cerveja e entregou na minha mão. - até hoje não bebemos juntos...
-É. É. - dei um longo gole, desviei o olhar. - E aí, o que tem feito?
-Ah, o de sempre.
Sorri com a boca encostada no gargalo da garrafa e pensei, então ainda não tempo pra mim. " - Lara Kustrowa

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