quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

E aí, será que ainda posso fazer planos?

Quando eu era criança eu comecei a me apaixonar. De começo foi por músicas, depois personagens de novela, livros... E por fim por coleguinhas de escola. Naquela época eu sabia sim fazer planos. E na minha mente eles eram os mais infalíveis, e no meu mundo eu sempre fui mais Cebolinha do que Mônica. Então imagine você o quanto eu errei, o quanto chorei, bati o pé, fiz pirraça... Daí eu fui crescendo e aprendendo. E há alguns anos eu ainda tinha planos... Mas um era pior que o outro e ainda só me faziam chorar ao fim do dia. Passou se mais algum tempo, e aí, sem planos eu descobri que alguém gostava de mim. Adivinha? Eu deletei todos meus infalíveis do cérebro e resolvi interpretar os planos que outro alguém escreveu pra mim. Resumo? Não deu certo mais uma vez... O fim que eu imaginei não era o mesmo do autor, e eu chorei mais uma vez ao ver que o plano tinha um fim com dois caminhos, e que neles já não íamos permanecer de mãos dadas.
Depois disso, isolei os planos. E olha, sem eles as coisas pareciam tão fáceis, iam tão de vento em polpa que eu esqueci eles no meio de alguma caixa, em uma das minhas mudanças distantes. Alguém com certeza os encontrou. E fico feliz se tiver se dado bem com algum deles. Até passei a dar um pouco de defeito, pois sem os planos, passei a escrever roteiros e isso definitivamente não rolou.
Aí então que eu descobri. Não confio no meu taco, e ainda assim tenho o dom de conseguir ser eu mesma, pateta e desajeitada. E graças a bondade cósmica isso me fez conhecer pessoas maravilhosas (algumas nem tanto), com qualidades em comum e defeitos mais comuns ainda pra mim. E até andei achando legal, cada uma dessas pessoas  passando por mim, e assim como se entra em museu pra ver certa exposição, elas me observaram, alguns se sentiram bem, felizes, outras vezes angustiados ou tristes. Uns partiram com a lembrança do que sou, e me deixarem com a lembrança do que passou. Alguns outros me apresentaram planos, mas não era cabível a minha arte. Não me movi. E outros mais, me mostraram planos que faria enorme bem a meu interior, mas não receberiam lucro algum. Então minhas cores não se ascenderam a eles. 
Os anos continuaram sua corrida, assim como os meses, as semanas, os dias, as horas. E aí, nessa exposição nem mesmo os quadros continuaram na mesma ordem... Essa exposição foi interditada, pois apresentava alto risco a quem a visitasse... Há tempos não se deixava adentrar. Um dia, sem prévio aviso, chegou alguém e entrou. Olhou, olhou... levantou algumas obras que estavam ao chão. Acendeu algumas luzes... Tirou pesos de cima de quadros, e separou algumas telas... Olhou tudo em volta com cuidado. Enxergou as cores que eu lhe permiti enxergar, e descobriu, quando descobriu algumas outras telas que eu ao menos fiz questão de apagá-las. Continuaram ali, com todas suas cores brilhantes nunca antes vistas. 
Apreciou a vista, e mostrou se em dúvida sobre o quanto valia a pena a restauração do lugar, das obras. Mostrou a cruel dúvida de não saber se ali poderia voltar a ser seguro, frequentável e se poderia outra vez haver alguma lei. Olhou por longas horas. Girou nos pés sem uma palavra ser dita e partiu. Sem informar a data da volta. Sem saber se vai voltar.
E as obras, a exposição? Ah,  ficamos ali, com algumas pequenas mudanças... Aquela onde alguns de meus quadros foram retirados em silêncio do chão. E outras, no agoniante eco do silêncio, que continuou na margem de onde não há planejamento em sua disposição. Desajeitada. Torta. Sem sentido. Esperando ser decifrada por alguém que ali voltar e permanecer. E que seja você, que conseguiu ver além da desordem, as cores. E continuamos aqui, a espera do retorno, para assim fazer parte dos seus possíveis planos e também inclui-lo em nossos próprios, que hão de brotar desta vontade de surgir do que a muito não há.

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