sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Quebrada

Novamente a minha porta, insônia. Ela, tão próxima de tantos amigos, resolveu forçar intimidade comigo. Talvez ela tenha vindo porque escutou meu peito gritando que não queria dormir sozinho. Agora ela senta na ponta da cama e me encara com seus olhos fundos, questionadora. Eu sei que ela tem fome de dúvida e que uma boa anfitriã ofereceria algo pra beber, mas não quero ser educada com alguém que não convidei. Me viro pro canto, e sinto ela se aproximar, acariciar meus cabelos e sussurrar que não vai me deixar. Finjo que não escutei. Finjo que ela não está aqui. Finjo mal, porque sei que ela sente meus olhos abertos, pregados no escuro. Ela sente minha respiração ofegante, a mandíbula travada e o medo das respostas que ela quer de mim. E então ela me abraça, sinto seu hálito na nuca e por um pequeno momento eu acredito que é pra sempre... mas eu sei, que quando o sono entrar pela porta, ela há de esgueirar se pela janela e quebrar sua vil promessa. -Lara Kustrowa 06/12/16